Ainda garoto, Douglas mudou-se para uma casa humilde no interior do Estado de São Paulo. Era mirradinho, tímido, simples, mas tinha um brilho nos olhos que mostrava tamanha inocência e amor no coração. Junto de seu melhor amigo, sonhavam e ser policiais e combater os vilões de sua cidade.
No início da adolescência, Douglas mudou-se para a Capital pois seus pais gostariam de matriculá-lo numa escola boa para que ele tivesse maiores chances de ter um futuro bom. Teve dificuldades em se habituar com a nova vida, com o novo local. Sentia falta dos amigos, de brincar na rua, do canto dos pássaros...
Após alguns meses, o garoto adaptou-se a cidade grande. Agora fazia academia, tinha um visual descolado, era popular na escola, gostava de trocar o dia pela noite. Já não se lembrava de sua vida no interior.
Quando adulto, virou promotor de festas, morava num apartamento junto de mais 2 amigos, comprou um carro maneiro e vivia rodeado de pessoas interessantes. Seus pais acabaram voltando ao interior, pois preferiam uma vida mais calma, como a que tinham antes.
Certa noite, após uma festa regada de mulheres e cerveja, Douglas sofreu um acidente terrível numa disputa de racha na avenida principal da cidade. A batia foi horrenda, Douglas sofreu traumatismo craniano e uma de suas pernas fora amputada. Também atropelou um homem pobre, trabalhador e pai de família.
Douglas passou 2 meses internado no hospital. Gastou todo seu dinheiro, perdeu seu emprego e vendeu seu carro, tudo para pagar os custos de internação e a indenização pelo atropelamento. Não conseguiu sequer avisar seus pais sobre o incidente, pois havia perdido contato com eles já há alguns meses.
Quando saiu do hospital, o rapaz foi expulso de seu apartamento, pois não tinha mais condições de ajudar com o aluguel da casa. Todas aquelas pessoas interessantes agora o tratava como um completo desconhecido. Douglas se viu sozinho, desamparado, sem idéia do que pudesse fazer dali em diante. Lembrou-se da sua vida no interior, do tempo em que a vida simples lhe trazia felicidade, dos seus amigos, do canto dos pássaros... Lembrou-se do seu melhor amigo, de suas travessuras, do sonho de ser policial...
O rapaz decidiu voltar para o interior, mas não havia sobrado dinheiro algum. Mesmo morto de fome e com dificuldades de locomoção, após implorar por serviço, conseguiu um bico num restaurante. Passou o dia lavando pratos até conseguir o dinheiro para a passagem do ônibus que o levaria de volta ao interior no último horário.
Durante todos as 7 horas de viajem, mesmo cansado e com fome, Douglas não conseguiu nem ao menos cochilar no ônibus. Só pensava em seus pais, em sua antiga vida.
Ao chegar na cidade seus olhos se encheram de lágrimas. Havia muita coisa diferente e muita coisa parecida ao mesmo tempo... Ouviu o canto dos pássaros e chorou sentado num banco da pracinha central. Começou a rezar até que desmaiou de exaustão. Foi acordado por um homem de terno azul marinho que o perguntou o que fazia dormindo ali. O homem tinha uma aparência serena, apesar do tom forte com que falava.
Assim que Douglas conseguiu abrir os olhos e focalizar o homem de terno, seu coração disparou. Douglas, sem saber porque seu coração havia disparado, sorriu ao homem de terno e explicou sua triste história.
O homem de terno respondeu: "Estou completamente decepcionado com você. Você é um idiota. Esqueceu seus valores, perdeu sua dignidade. O que você fez da sua vida foi muito errado, você estragou tudo. Tenho mulher e 2 filhos pequenos e poderia ser eu o atropelado. Sou o delegado chefe dessa cidade e minha vontade era de te surrar e mandá-lo para a cadeia. Além do mais, não é permitido dormir em praça pública e não admitimos mendigos aqui. O que aconteceu, meu Deus? Como isso pode acontecer com meu amigo? Douglas, me da um abraço aqui!"
Nesse momento, Douglas também reconheceu seu melhor amigo. Os dois se abraçaram durante um bom tempo, choraram e sorriram.
Hoje, Douglas mora com seus pais, ajuda na despesa de casa trabalhando como escrivão da 2º DP da cidade, faz doações mensais à um orfanato e faz palestras nesta mesma instituição.
"Amigos e amigos... Amigos que vão, amigos que ficam... os que vão, geralmente são os que parecem ser bons amigos hoje, que fingem te dar a mão por simples conveniência naqueles momentos aparentemente, maus momentos, e que sempre concordam com você por mais que você esteja completamente errado... Já os que ficam são aqueles que nem sempre estão presentes, que te manda tomar no cú quando você erra, que te rasga verdades na cara mesmo não te agradando nem um pouco e te faz se morder de raiva quando você deita na cama e compreende que o que você acabara de ouvir é a mais pura realidade realidade, e, que depois disso, te ajudam quando você opta pelo melhor caminho. Estes são aqueles que realmente merecem ser chamdos de "meus amigos" porque são verdadeiros, são reais e não querem apenas mais uma companhia interessante pra balada... amigos!"