Um tal senhor Zangão, um homem muito correto, honesto, de vida estável, vivia numa pequena cidade ao lado da humilde casa de um monge.
Todas as manhãs o Sr. Zangão saía para comprar pães na padaria e um jornal. Sempre avistava um tal monge, seu vizinho, cultivando flores em seu quintal. Apesar de serem vizinhos, os dois nunca trocaram uma palavra, a visto que o Sr. Zangão não era muito de conversa.
O monge, por sua vez, sempre avistava seu vizinho “truculento” discutindo com outros moradores do bairro, geralmente clientes de sua pequena mercearia.
O Sr. Zangão, de tão correto, não se continha ao ver coisas erradas ao seu redor. Se irritava facilmente com qualquer um e discutia como se jogasse pedras em seus “adversários”.
Certo dia, o monge, após ver o Sr. Zangão mais irritado do que o comum,trocar algumas palavras:
- Bom dia senhor, como vai?
- Tudo bem. – Respondeu o Sr. Zangão com certa arrogância, mas sem desrespeitar o monge.
- Desculpe a insistência, mas o senhor parece bastante zangado hoje. Será que posso ajudar? – Insistiu o monge.
- O que é que você quer? Não aconteceu nada. Está tudo bem. Aliás, estava até você aparecer! – Retrucou o Sr. Zangão.
- Posso lhe fazer uma pergunta? Porque o senhor age dessa maneira? Eu só tinha lhe feito uma simples pergunta. – Disse o monge de maneira suave.
- Olha, me desculpe, mas parece que todos nessa cidade não gostam de honestidade. Sou um homem correto, não gosto de coisas erradas e me irrito mesmo com isso. Nunca devi nada para ninguém, nunca roubei, nunca matei. Então cuide da sua vida que eu cuido da minha, está certo? Até logo! – Finalizou o Sr. Zangão.
Nesse momento, o monge, calado entregou-lhe um ramo de flores. Eram lírios da paz, muito bem cultivados, por sinal, e se retirou para sua residência.
O Sr. Zangão, ainda perturbado jogou as flores no sofá de sua casa. Não entendeu o porque das flores, chegou até a pensar que o monge era homosexual.
Na manhã seguinte, o senhor Zangão viu os lírios em seu sofá, ainda impecáveis. Não lembrava se havia agradecido ao monge, mas como era bem educado, resolveu que se o encontrasse, agradeceria o presente e saiu para comprar seus pães e seu jornal, como de rotina.
Ao voltar para casa, avistou o monge cultivando suas flores, como de costume. Resolveu que agradeceria a gentileza.
- Hey monge, bom dia! Ontem eu estava bastante zangado, acabei não lhe agradecendo o presente. Muito obrigado. Até logo!
- Não precisa agradecer, meu caro. Foi apenas um pedido de paz entre vizinhos. Não tenho nada contra o senhor e acredito que o senhor também não tenha nenhum problema em relação a minha pessoa. Aliás, ontem foi a primeira vez em que nos falamos e acho que o primeiro contato não foi dos melhores. – Respondeu o monge com uma breve gargalhada.
- Realmente, me desculpe! É que eu ando vendo tantos problemas, tanta gente desonesta. O mundo já não é mais o mesmo. Não tenho suportado. – Disse o Sr. Zangão.
- Pois é, meu amigo. E o que o senhor faz para mudar? – Perguntou o monge.
- Pago minhas contas em dia, procuro dar exemplo com minha honestidade, mas as pessoas não percebem isso, só querem saber de tirar proveito umas das outras. Nem parece que somos todos filhos do mesmo Deus. – Respondeu o Sr. Zangão.
- Realmente, o senhor tem razão. Mas acredito que não esteja agindo da melhor forma para mudar alguma coisa. Veja bem o que aconteceu ontem. Eu lhe fiz uma pergunta e você me respondeu com pedras e rancor. Alimentou uma guerra que não precisava acontecer. E com o que eu lhe retribuí? Com um sorriso e um ramo de lírios da paz. Não precisei atacá-lo em momento algum e hoje estou realmente feliz por vê-lo aqui em meu portão, com toda essa gentileza. – Disse o monge.
- Realmente, acho que não tenho feito o certo. O senhor me desarmou com simples flores. Eu estava cego de rancor e só ando atraindo mais rancor. – Disse o Sr. Zangão em tom melancólico.
- Não fique chateado, meu amigos. Todos estamos aqui para aprender a cada dia. Espero que o senhor tenha entendido. Não devemos combater fogo com fogo, pedras com pedras. Não é revidando ou atacando que ganhamos uma batalha. Aliás, não estamos no mundo para batalhar. Estamos aqui para proliferar amor, paz e amizade. Acredito que uma flor seja um instrumento muito mais eficiente do que uma pedra para tal. Sejamos felizes. Do que adianta cultivar tanto rancor? Paz no coração, meu amigo! E tenha um bom dia. – finalizou o monge.
"Se você quer ser feliz, cultive os bons sentimentos, desarme o rancor entregando o amor, combata a raiva mostrando a felicidade. Cuide do próximo como você gostaria de ser cuidado."